Qual é a Causa disso Tudo?

 

“… a explanação etiológica é comparável ao corte de um mármore que mostra vários sulcos um ao lado do outro, mas não permite conhecer o curso de cada um deles do interior à superfície do bloco; ou seja, se me for permitida uma comparação burlesca, em virtude de sua plasticidade, – em face da etiologia de toda a natureza o filósofo investigador teria de se sentir como alguém que, sem saber, entrasse numa sociedade por inteiro desconhecida, cujos membros lhe apresentariam seguidamente seus respectivos parentes e amigos, tornando-os suficientemente familiares; ele mesmo, entretanto, todas as vezes que se alegrasse com a pessoa apresentada, teria sempre nos lábios a pergunta: ‘Diabos, como vim parar no meio dessa gente?’ § Portanto, também a etiologia nunca pode fornecer a desejada informação que nos conduziria para além daqueles fenômenos que conhecemos como nossas representações; pois, depois de todas as suas explanações, eles ainda permanecem completamente estranhos, meras representações cujas significações não compreendemos. A conexão causal dá apenas a regra e a ordem relativa de seu aparecimento no espaço e no tempo, sem nos permitir conhecer mais concretamente aquilo que aparece. Ademais, a lei de causalidade vale somente para representações, para objetos de uma determinada classe, sob cuja pressuposição unicamente possui significado; portanto, igual a tais objetos, existe só em relação ao sujeito, logo, condicionalmente, pelo que é conhecida tanto a priori, quando se parte do sujeito, quanto a posteriori, quando se parte do objeto (como Kant ensina).”

[SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo como vontade e representação: primeiro tomo. Livro Segundo, § 17, p. 154-155, 2005].

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